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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Língua Portuguesa


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor*, lira singela,
Que tens o trom* e o silvo da procela*,
E o arrolo* da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O génio sem ventura e o amor sem brilho!

 

Publicado no livro Tarde (1919).
In: BILAC, Olavo. Poesias.Posfácio R. Magalhães Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 197


*clangor -(s.m.) Som de trombeta;  
*trom - (s.m.) Som do canhão;
*procela - (s.f.) Tormenta no mar, tempestade, grande agitação.  
*arrolo - (s.m.) Canto ou toada para adormecer crianças. 
Em: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx 
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